terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Marcas que me fazem lembrar

Trago comigo marcas que me lembram situações, pessoas, lugares. São como que cicatrizes feitas por cisões, por acidentes inesperados e também por consequências do que outrora escolhi. Elas surgiram por meio da dor e dos desencontros. Essas marcas de alguma maneira têm falado comigo. De repente, num piscar de olhos, tudo o que reconheço como meu, o meu mundo, o meu lugar, pode desaparecer. Quero dizer que a vida, tão bela e tão forte, não está sob meu domínio. Não posso me iludir. Tais marcas me fazem lembrar que sou efêmero, frágil, pobre. Elas me fazem lembrar também que talvez eu não tenha tanto tempo assim como penso ter. Eu e essa forte tendência de achar que a morte só acontecerá com o vizinho, ou com o fulano de tal do país no outro lado do mundo! Então, até quando vou manter meu nariz empinado, meu peito estufado e meus pés calejados de tanto pisar nos que "são fracos e diferentes de mim"? Até quando vou me assenhorar de mim mesmo, bastando-me, gabando-me do direito de que tudo tem que ser como eu quero? Até quando serei sempre o certo e o outro o errado? Benditas cicatrizes! Elas me lembram que o tempo é breve. Na Igreja é o tempo do Advento e o que mais escutarei nesses dias é sobre a iminência do vir de Deus a nós, seu povo. Quando virá? Como virá? Avisará para  que então eu me prepare para não ser negativamente surpreendido? No fundo, as marcas me fazem lembrar que não posso mais desperdiçar o tempo, pois não sou o seu senhor. Em menos de um segundo, tudo pode mudar, pessoas podem partir, lugares podem se modificar. Preciso me sensibilizar com isso. Deus surpreendeu quando enviou seu Filho ao mundo. Ninguém esperava que fosse daquela maneira. Se não tenho do que lembrar, deve ser porque fiquei insensível às marcas que a vida me deixou. É porque talvez já não me lembro que o mundo, as pessoas e principalmente Deus não cabem nas minhas mãos. Vieram por meio da dor e do desencontro, dando-me a consciência do homem que eu sou. Não sou Deus e não sou o outro, que é meu amigo, e que é meu irmão. As marcas me lembram qual é o meu lugar.